LIVRO ARTE LITERÁRIA – ARCADISMO – CLENIR BELLEZI – (p. 114 a 133)
Tomás Antônio Gonzaga – Marília de Dirceu:
1. Parafraseie os fragmentos do poema Marília de Dirceu.
(Arte Literária p. 122 a 124 – verifique o comentário no livro Literatura de Maria Luíza Abaurre p. 196)
Na primeira parte, Dirceu destaca suas características e as características da sua amada Marília (beleza física). Ele é um vaqueiro invejado por muitos vaqueiro, inclusive por Alceu. Dirceu tem um prado (um sítio, uma fazenda), tem também uma vida regalada, feliz e realizada. Na segunda parte, Dirceu apresenta-se abatido, preocupado com a aparência, está ficando velho e calvo, percebe que Marília ainda é jovem. Também apresenta tristeza por estar preso. Nesta segunda parte há traços de subjetivismo, transição para o Romantismo.
2. Destaque os clichês Árcades.
O ideal de uma vida simples, provida apenas do necessário; sem paixões necessárias (locus amoenus, fugere urbem, inutilia truncat)
3. Explique o objetivismo na “sedução entre Dirceu e Marília” no poema.
Para o barroco, a consciência de que a vida é efêmera leva a um profundo pessimismo. Já para os árcades, materialistas e racionais, essa consciência serve de alerta: se a vida é efêmera e fugaz, melhor aproveitá-la: “prendamo-nos, Marília, em laço estreito, / Gozemos do prazer de São Amores”. Além disso, há convencionalismo amoroso, há ausência de subjetivismo, característica própria do Arcadismo.
4. O amor presente na primeira parte do texto é platônico ou carnal? Justifique.
A musa é caracterizada de forma sensual: ele alude a seus olhos brilhantes, a sua pele macia como as pétalas das flores, aos cabelos dourados, aos perfumes que ela exala, à beleza e sedução de seu corpo, portanto, é carnal.
5. De que maneira o texto da segunda parte contraria os pressupostos do arcadismo?
Há uma mudança na forma textual, nas características, no tom: o poeta revela o sofrimento físico e moral; a mulher amada aparece apenas como lembrança remota; desmancham-se os ideais concebidos na primeira parte. Destacar que na segunda parte as alegrias pertencem ao passado; o presente é um momento marcado por decepção e solidão: “Tudo agora perdi; nem tenho o gosto de ver-te ao menos compassivo o rosto”.
Tomás Antônio Gonzaga – Cartas Chilenas:
6. O que ocorre, verdadeiramente, no prólogo de Cartas Chilenas?
É um dos artifícios empregados na produção das Cartas Chilenas; não houve nenhum mancebo como portador delas, tampouco, seus originais foram escritos em castelhana. As cartas foram escritas por Tomás Antônio Gonzaga, em função de sua desavença com o governador de Minas Gerais Luís da Cunha Menezes.
7. Quais os pseudônimos usados nas cartas?
Doroteu (Cláudio Manuel da Costa) – vivia aparentemente na Espanha, Critilo (Tomás Antônio Gonzaga), Fanfarrão Minésio (Luís da Cunha Meneses) Critilo diz ser o general do Chile. Onde se lê Chile deve ser província de Minas Gerais, onde se lê Santiago deve ser Vila Rica (atual Ouro Preto)
8. Qual a estrutura do poema?
8 cartas, 4.268 versos decassílados brancos (sem rima)
9. Trace um perfil de Luís da Cunha Meneses, de seu despotismo e das condições em que mantinha seus prisioneiros.
Luís da Cunha Meneses na é condizente com as leis do reino, ele as extrapola com sua crueldade doentia; é apresentado como um sanguinário e torturador: “Estes tristes, mal chegam, são julgados / pelo benigno Chefe a cem açoites”.
Basílio da Gama – O Uraguai
10. Qual o assunto da obra O Uraguai?
Tem como assunto um episódio importante da História do Brasil e da América do Sul: a guerra pela definição de fronteiras perpetrada pela Companhia de Jesus, tendo, de um lado, jesuítas espanhóis – que fundaram os Sete Povos das Missões, a noroeste do atual Estado do Rio Grande do Sul, às margens do Rio Uruguai – e, de outro, jesuítas portugueses, que ocupavam uma região na foz do Rio Prata, aproximadamente a 66Km de Buenos Aires, a Nova Colônia do Santíssimo Sacramento, ponto situado no extremo sul dos domínios espanhóis.
11. O que determinava o Tratado de Madri?
A troca de ambas as colônias
12. A visão que Basílio tem do índio já reflete o sentimento nativista que o Romantismo tanto cultivou:
a) Como são caracterizadas as personagens Lindoia e Caitutu?
As personagens são caracterizadas como resistentes e corajosas ante o perigo.
b) Essas personagens estão mais próximas da realidade ou de figuras idealizadas?
Essas personagens estão mais próximas de figuras idealizadas; revelam as tendências românticas do autor.
c) O lugar é descrito como “delicioso e triste”. Explique por quê.
A cena se passa no meio campestre e, como tal, idealizado pelos árcades, porém, será palco para um episódio de dor e morte.
13. Em relação aos outros escritores do Arcadismo brasileiro, Basílio da Gama apresenta as mesmas convenções árcades? Justifique a resposta a partir do vocabulário e dos recursos de linguagem empregados. Não.
O tom passional com que conduz a narrativa, o caráter emocional das atitudes de Lindoia, que morre por amor, e de Caitutu, pertubado, são indícios do pré-romantismo.
- Quanto ao aspecto formal, o poema apresenta versos brancos, sem rimas, e quanto ao número de sílabas poéticas, há alguma regularidade?
Sim, os versos são decassílabos.
Santa Rita Durão – Caramuru
14. Em que medida, o fragmento da obra Caramuru sofre influências camonianas? Justifique com base no texto.
É uma epopeia, com versos decassílabos, organizado em oitava real. Predominam as rimas alternadas ABAB
15. O discurso de Moema é coerente com sua condição? Justifique.
Não, uma vez que as atitudes de Moema estão mais próximas das características de uma heroína romântica.
16. Prevalece no texto o tom lírico ou patético? Justifique.
Prevalece o patético, imagina-se a cena improvável e ridícula.
17. Qual a história de Caramuru?
Conta a história de Diogo Álvares Correia, que naufragou na Bahia. Seus companheiros de viagem foram devorados pelos índios, ele escapou. Ao dar um tiro de espingarda, Diogo Álvares ficou conhecido como Caramuru – o filho do trovão – isso rende a Diogo prestígio na aldeia e o assédio da moças, especialmente de Moema, porém, Diogo se apaixona por Paraguaçu, a filha do cacique e com ela retorna a Portugal, pegando carona em um navio francês. Casa-se com ela, e Paraguaçu é batizada em ritual católico por Catarina de Médicis
LIVRO LITERATURA BRASILEIRA: TEMPO, LEITURA E LEITORES – BARROCO – MARIA LUÍZA ABAURRE E MARCELA PONTARA (P. 184 A 201)
18. (Bocage – Recreios Campestres) A quem se dirige o eu lírico? Que convite faz?
O eu lírico se dirige a uma mulher chamada Marília (pseudônimo). Ele a convida a observar juntamente com ele a perfeição da natureza.
19. (Bocage – Recreios Campestres) Como a natureza é apresentada no poema?
A natureza é caracterizada de modo positivo: o rio Tejo “sorri”, as borboletas coloridas brincam, enquanto o rouxinol e a abelhinha voam etc. Em resumo, o cenário apresentado pelo eu lírico é alegre e acolhedor.
20. Qual o projeto literário do Arcadismo?
Divulgação dos ideais de uma sociedade mais igualitária e justa.
Tentiva de modificar a mentalidade das elites.
21. Quais as condições de produção dos textos árcades?
São semelhantes as do Barroco. Os poetas árcades se reúnem em academias, agora denominadas arcádias, e definem os princípios segundo os quais os textos literários devem ser escritos.
22. Qual a diferença entre as academias e as Arcádias?
Nas academias barrocas barrocas, a criação literária era feita para surpreender, espantar por meio de seu rebuscamento, as arcádias literárias, por sua vez, combatem esse objetivo.
23. Comente sobre o bucolismo e o pastoralismo no arcadismo.
O bucolismo na poesia árcade é quando apresenta aspectos da vida campestre. O pastoralismo é quando o poeta e sua amada são identificados como pastor e pastora.
24. Por que a linguagem do arcadismo é simples?
Para combater o estilo ornamental e rebuscado do Barroco.
25. (Bocage – Convite à Marília) Qual é o assunto tratado no poema?
O eu lírico faz um convite à sua amada para que desfrute, com ele, a beleza e a simplicidade da natureza.
26. (Bocage – Convite à Marília) Cite os clichês árcades.
Locus amoenus ( a natureza é bela, a primavera fértil o prado (campo) verde, Aureo mediocritas (convite à vida simples no campo – vem lograr comigo destes alegres campos, fugere urbem – (a civilização contamina – deixa o louvar da corte a vã grandeza, quanto me agrada mais estar contigo, notando as perfeições da Natureza!)
27. (Cláudio Manuel– Leia a Posteridade…) Qual é o propósito do poema?
Celebrar, para a posteridade, o nome do rio pátrio, para que não seja esquecido com o passar do tempo.
28. (Cláudio Manuel– Leia a Posteridade…) Qual é a referência negativa em relação aos ideais árcades?
O eu lírico diz que não há, nas margens do rio, uma árvore que ofereça boa sombra, em suas águas não cantam as Ninfas, o gado não pasta nas tardes de verão.
29. (Cláudio Manuel– Leia a Posteridade…) Qual a causa da celebração do rio?
É identificada na terceira estrofe: suas águas escondem a riqueza do ouro, que alimenta as ambições humanas.
30. (Cláudio Manuel– Leia a Posteridade…) Explique a última estrofe.
O eu-lírico explica a presença do metal precioso como uma consequência dos raios solares que aquecem o rio como uma forma de bênção natural.
31. (Cláudio Manuel– Estes os olhos são da minha amada…) Cite as características da mulher amada.
Escolhe a partir de um aspecto físico e iguala a natureza. Ele compara os olhos da amada como duas estrelas.
32. (Cláudio Manuel– Destes penhascos fez a natureza…) Na segunda estrofe ocorre uma personificação do amor, como ele é apresentado?
O amor é apresentado como um guerreiro forte, que vence os tigres, e que toma como objetivo render o eu lírico, declarando-lhe guerra ao coração.
33. (Cláudio Manuel– Destes penhascos fez a natureza…) Quem é o interlocutor a quem o eu lírico se dirige na última estrofe?
O eu lírico se dirige às pedras. Ele diz para temerem a ferocidade do Amor (caracterizado como tirano), que mais se empenha onde há mais resistência.
34. (Cláudio Manuel– Destes penhascos fez a natureza…) No soneto transcrito, o poeta evidencia uma forte característica de sua obra: a incorporação de elementos da paisagem local ao cenário árcade. Qual é o elemento local presente no texto?
O elemento da paisagem local (Minas Gerais) incorporado é o cenário rochoso (penhascos e penhas). Observe o significado: o eu lírico marca a oposição entre o cenário e sua alma. Seria de esperar que entre as rochas que caracterizam o cenário se encontrasse um “peito forte”, mas entre as “penhas” se criou uma “alma terna” e um “peito sem dureza”, que não consegue resistir à guerra que o Amor declara contra ele.
34. (Bocage) – Analise os sonetos a seguir, Diga se há características árcades, se há transição para o Romantismo, cite os clichês árcades e outros temas que você julgar necessário.
Há subjetivismo no poema, característica do Romantismo. Não se pode dizer que Bocage fosse um romântico, isso era motivado pela força do temperamento dele mais os sofrimentos que passou na vida. É um poema pessimista, pode-se por isso, encontrar transição para o Romantismo. Assim, o Locus Amoenus árcade cede lugar ao locus horrendus romântico; apoderam-se dos seus versos a emoção, o pessimismo, as imagens lúgubres, o desejo de morte e a espiritualidade. |
Ó retrato da morte! Ó Noite amiga,
Por cuja escuridão suspiro há tanto!
Calada testemunha de meu pranto,
De meus desgostos secretária antiga!
Pois manda Amor que a ti somente os diga
Dá-lhes pio agasalho no teu manto;
Ouve-os, como costumas, ouve, enquanto
Dorme a cruel que a delirar me obriga.
E vós, ó cortesãos da escuridade,
Fantasmas vagos, mochos piadores,
Inimigos, como eu, da claridade!
Em bandos acudi aos meus clamores;
Quero a vossa medonha sociedade,
Quero fartar meu coração de horrores.
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Há subjetivismo no poema, característica do Romantismo, pode-se dizer que apresenta traços de transição para o Romantismo. Não se pode dizer que Bocage fosse um romântico, mas ele já vivia os últimos momentos da sua vida, reconhecia a sua fragilidade, a sua impulsividade, arrepende-se da língua ferina, daí porque abandona as características árcades e apresenta subjetivismo Romântico. |
Meu ser evaporei na lida insana
Do tropel de paixões, que me arrastava;
Ah!, cego eu cria, ah!, mísero eu sonhava
Em mim quase imortal a essência humana.
De que inúmeros sóis a mente ufana
Existência falaz me não doirava!
Mas eis sucumbe a Natureza escrava
Ao mal que a vida em sua origem dana.
Prazeres, sócios meus e meus tiranos!
Esta alma, que sedenta em si não coube,
No abismo vos sumiu dos desenganos.
Deus, ó Deus!… Quando a morte à luz me roube,
Ganhe um momento o que perderam anos.
Saiba morrer o que viver não soube.
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É um soneto autobiográfico, nele, Bocage compara a sua vida a vida de Camões. Coloca-se como imitador de Camões. O soneto não apresenta traços de subjetivismo como os sonetos anteriores, apresenta características árcades: linguagem simples, imitação dos clássicos…
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Camões, grande Camões, quão semelhante
Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!
Igual causa nos fez, perdendo o Tejo,
Arrostar co’o sacrílego gigante;
Como tu, junto ao Ganges sussurrante,
Da penúria cruel no horror me vejo;
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,
Também carpindo estou, saudoso amante.
Ludíbrio, como tu, da Sorte dura
Meu fim demando ao Céu, pela certeza
De que só terei paz na sepultura.
Modelo meu tu és, mas… oh, tristeza!…
Se te imito nos transes da Ventura,
Não te imito nos dons da Natureza.
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Faz referência a Adamastor, gigante da epopeia Os Lusíadas de Camões, essa volta ao Classicismo é característica do Arcadismo. Fora Adamastor, faz referência a Vênus e a Vasco da Gama
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Adamastor cruel! De teus furores
Quantas vezes me lembro horrorizado!
Ó monstro! Quantas vezes tens tragado
Do soberbo Oriente os domadores!
Parece-me que entregue a vis traidores
Estou vendo Sepúlveda afamado,
Co’a esposa e co’os filhinhos abraçado,
Qual Mavorte com Vénus e os Amores.
Parece-me que vejo o triste esposo,
Perdida a tenra prole e a bela dama,
Às garras dos leões correr furioso.
Bem te vingaste em nós do afoito Gama!
Pelos nossos desastres és famoso.
Maldito Adamastor! Maldita fama!
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SONETO DITADO NA AGONIA
Há subjetivismo no poema, característica do Romantismo, pode-se dizer que apresenta traços de transição para o Romantismo. Não se pode dizer que Bocage fosse um romântico, mas ele já vivia os últimos momentos da sua vida, reconhecia a sua fragilidade, a sua impulsividade, arrepende-se da língua ferina, daí porque abandona as características árcades e apresenta subjetivismo Romântico. |
Já Bocage não sou!… À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento…
Eu aos Céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura;
Conheço agora já quão vã figura,
Em prosa e verso fez meu louco intento:
Musa!… Tivera algum merecimento
Se um raio da razão seguisse pura.
Eu me arrependo; a língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:
Outro Aretino fui… a santidade
Manchei!… Oh! Se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!
35. (Alvarenga Peixoto) – Analise os sonetos a seguir, cite as características árcades, se há transição para o Romantismo, cite os clichês árcades e outros temas que você julgar necessário.
Não há transição para o Romantismo. Mostra a ideia social que havia no arcadismo, a luta –arranca da espada, descarrega o corte. Há referência a clichês árcades “Alcides”, “Termindo”. Mostra a imagem de paisagem “das novas terras por engenhos claro” |
Entro pelo Uraguai: vejo a cultura
Das novas terras por engenho claro;
Mas chego ao Templo magnífico e paro
Embebido nos rasgos da pintura.
Vejo erguer-se a República perjura
Sobre alicerces de um domínio avaro:
Vejo distintamente, se reparo,
De Caco usurpador a cova escura.
Famoso Alcides, ao teu braço forte
Toca vingar os cetros e os altares:
Arranca a espada, descarrega o corte.
E tu, Termindo, leva pelos ares
A grande ação já que te coube em sorte
A gloriosa parte de a cantares
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Há traços de subjetivismo, de religiosidade “às santas leis do filho de Maria”. O poeta dedica o poema à filha Efigênia que morreu ainda criança. Talvez por esse motivo, o poema se aproxima das características românticas. Além disso, há um tom pessimista, o eu lírico contempla a brevidade da vida “que o mundo são brevíssimos instantes”
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A Maria Ifigênia
Em 1786, quando completava sete anos.
Amada filha, é já chegado o dia,
em que a luz da razão, qual tocha acesa
vem conduzir a simples natureza,
é hoje que o teu mundo principia.
A mão que te gerou teus passos guia,
despreza ofertas de uma vã beleza,
e sacrifica as honras e a riqueza
às santas leis do filho de Maria.
Estampa na tua alma a caridade,
que amar a Deus, amar aos semelhantes,
são eternos preceitos da verdade.
Tudo o mais são ideias delirantes;
procura ser feliz na eternidade,
que o mundo são brevíssimos instantes.
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Há áurea mediocritas – o campo é o lugar simples. O ambiente é bucólico, faz referência a aves, pastores, flores, ciprestes. Outra característica árcade é a referência à mitologia: Pã, Ninfas, cupido (sem arcos, sem aljavas,os Amores), Vênus, Palas. Pseudônimo da amada: Jônia.
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Ao mundo esconde o Sol seus resplendores,
e a mão da Noite embrulha os horizontes;
não cantam aves, não murmuram fontes,
não fala Pã na boca dos pastores.
Atam as Ninfas, em lugar de flores,
mortais ciprestes sobre as tristes frontes;
erram chorando nos desertos montes,
sem arcos, sem aljavas, os Amores.
Vênus, Palas e as filhas da Memória,
deixando os grandes templos esquecidos,
não se lembram de altares nem de glória.
Andam os elementos confundidos:
ah, Jônia, Jônia, dia de vitória
sempre o mais triste foi para os vencidos!
*************************
De açucenas e rosas misturadas
não se adornam as vossas faces belas,
nem as formosas tranças são daquelas
que dos raios do sol foram forjadas.
As meninas dos olhos delicadas,
verde, preto ou azul não brilha nelas;
mas o autor soberano das estrelas
nenhumas fez a elas comparadas.
Ah, Jônia, as açucenas e as rosas,
a cor dos olhos e as tranças d’oiro
podem fazer mil Ninfas melindrosas;
Porém quanto é caduco esse tesoiro:
vós, sobre a sorte toda das formosas,
inda ostentais na sábia frente o loiro!
A beleza da mulher é misturada com a beleza da natureza, são ornamentos simétricos, perfeitos, harmoniosos (De açucenas e rosas misturadas, não se adornam as vossas faces belas). Pseudônimo da amada: Jônia.
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Refere-se à Jônia (pseudônimo), mulher linda e comprometida. Jônia é uma das musas do poeta. Depois refere-se a outra musa Nise (pseudônimo). O eu lírico se encanta pelas duas, não sabe a quem escolher. Características árcades: o amor é convencional, é um jogo de sedução, próprio do arcadismo, visto que o que prevalece é a razão, é o eu lírico que não se identifica que se apaixona por duas mulheres, para elas, ele utiliza pseudônimos. O eu lírico apela para o cupido (deus mitológico) para decidir a questão.
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Eu vi a linda Jônia e, namorado,
fiz logo voto eterno de querê-la;
mas vi depois a Nise, e é tão bela,
que merece igualmente o meu cuidado.
A qual escolherei, se, neste estado,
eu não sei distinguir esta daquela?
Se Nise agora vir, morro por ela,
se Jônia vir aqui, vivo abrasado.
Mas ah! que esta me despreza, amante,
pois sabe que estou preso em outros braços,
e aquela me não quer, por inconstante.
Vem, Cupido, soltar-me destes laços:
ou faze destes dois um só semblante,
ou divide o meu peito em dois pedaços!
************************
Há traços de subjetivismo. O eu lírico fala da prisão, faz referência ao envolvimento na Inconfidência Mineira, fato que ocasionou o seu desterro para a África. Há pessimismo no poema, transição para o Romantismo. |
Eu não lastimo o próximo perigo,
Uma escura prisão, estreita e forte;
Lastimo os caros filhos, a consorte,
A perda irreparável de um amigo.
A prisão não lastimo, outra vez digo,
nem o ver iminente o duro corte,
que é ventura também achar a morte
quando a vida só serve de castigo.
Ah, quão depressa então acabar vira
este enredo, este sonho, esta quimera,
que passa por verdade e é mentira!
Se filhos, se consorte não tivera
e do amigo as virtudes possuíra,
um momento de vida eu não quisera.
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Não me aflige do potro a viva quina;
Da férrea maça o golpe não me ofende;
Sobre as chamas a mão se não estende;
Não sofro do agulhete a ponta fina.
Grilhão pesado os passos não domina;
Cruel arrocho a testa me não fende;
À força perna ou braço se não rende;
Longa cadeia o colo não me inclina.
Água e pomo faminto não procuro;
Grossa pedra não cansa a humanidade;
A pássaro voraz eu não aturo.
Estes males não sinto, é bem verdade;
Porém sinto outro mal inda mais duro:
Da consorte e dos filhos a saudade!
Há traços de subjetivismo. O eu lírico fala do exílio, resultado do seu envolvimento na Inconfidência Mineira. Há pessimismo no poema, saudosismo, transição para o Romantismo.
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36. (Silva Alvarenga) – Analise os sonetos a seguir, cite as características árcades, se há transição para o Romantismo, cite os clichês árcades e outros temas que você julgar necessário.
Glaura (pseudônimo da musa inspiradora do poeta, característica do arcadismo) Bucolismo – referência ao campo.
A natureza como cenário. |
I
Suave fonte pura,
Que desces murmurando sobre a areia,
Eu sei que a linda Glaura se recreia
Vendo em ti dos seus olhos a ternura;
Ela já te procura;
Ah! como vem formosa e sem desgosto!
Não lhe pintes o rosto:
Pinta-lhe, ó clara fonte, por piedade,
Meu terno amor, minha infeliz saudade.
XV
No ramo da mangueira venturosa
Triste emblema de amor gravei um dia,
E às Dríades saudoso oferecia
Os brandos lírios, e a purpúrea rosa.
Então Glaura mimosa
Chega do verde tronco ao doce abrigo…
Encontra-se comigo…
Perturbada suspira, e cobre o rosto.
Entre esperança e gosto
Deixo lírios, e rosas… deito tudo;
Mas ela foge (Ó Céus!) e eu fico mudo.
XXIV
Não desprezes, ó Glaura, entre estas flores,
Com que os prados matiza a bela Flora,
O Jambo, que os Amores
Colheram ao surgir a branca aurora.
A Dríade suspira, geme e chora
Aflita e desgraçada.
Ela foi despojada… os ais lhe escuto…
Verás neste tributo,
Que por sorte feliz nasceu primeiro,
Ou fruto que roubou da rosa o cheiro,
Ou rosa transformada em doce fruto.
********************
Comparação da amada com a natureza, há equilíbrio e beleza.
|
À LUA
Como vens tão vagarosa,
Oh formosa e branca lua!
Vem co’a tua luz serena
Minha pena consolar!
Geme, oh! céus, mangueira antiga,
Ao mover-se o rouco vento,
E renova o meu tormento
Que me obriga a suspirar!
Entre pálidos desmaios
Me achará teu rosto lindo
Que se eleva refletindo
Puros raios sobre o mar.
*******************
Glaura (pseudônimo da musa inspiradora do poeta, característica do arcadismo) Faz referência ao relacionamento amoroso dos dois. Há traços de subjetivismo no poema – transição para o Romantismo |
Madrigal III [Voai, suspiros tristes;]
Voai, suspiros tristes;
Dizei à bela Glaura o que eu padeço,
Dizei o que em mim vistes,
Que choro, que me abraso, que esmoreço.
Levai em roxas flores convertidos
Lagrimosos gemidos que me ouvistes:
Voai, suspiros tristes;
Levai minha saudade;
E, se amor ou piedade vos mereço,
Dizei à bela Glaura o que eu padeço.
*******************************
Glaura (pseudônimo da musa inspiradora do poeta, característica do arcadismo) Bucolismo – referência ao campo. A natureza como cenário.
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Madrigal LIII [Tu és no campo, ó Rosa,]
Tu és no campo, ó Rosa,
A flor de mais beleza
De quantas produziu a Natureza
Que em tuas perfeições foi cuidadosa.
E se Glaura formosa
No seio dos prazeres te procura,
Qual outra flor será de mais ventura,
Ou mais digna de amor ou mais mimosa?
Tu és no campo, ó Rosa,
A flor de mais ventura e mais beleza
De quantas produziu a Natureza.
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Glaura (pseudônimo da musa inspiradora do poeta, característica do arcadismo) Bucolismo – referência ao campo.
A natureza como cenário. Referência à mitologia
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Madrigal XVIII [Suave Agosto as verdes laranjeiras]
Suave Agosto as verdes laranjeiras
Vem feliz matizar de brancas flores,
Que, abrindo as leves asas lisonjeiras,
Já Zéfiro respira entre os Pastores
Nova esperança alenta os meus ardores
Nos braços da ternura.
Ó dias de ventura,
Glaura vereis à sombra das mangueiras!
Suave Agosto as verdes laranjeiras
Co’a turba dos Amores
Vem feliz matizar de brancas flores.
Glaura (pseudônimo da musa inspiradora do poeta, característica do arcadismo) Bucolismo – referência ao campo.
A natureza como cenário. Referência à mitologia. Referência ao relacionamento amoroso – há saudosismo – transição ao Romantismo.
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O Amante Satisfeito – Rondó XXVI
Canto alegre nesta gruta,
E me escuta o vale e o monte:
Se na fonte Glaura vejo,
Não desejo mais prazer.
Este rio sossegado,
Que das margens se enamora,
Vê co’as lágrimas da Aurora
Bosque e prado florescer.
Puro Zéfiro amoroso
Abre as asas lisonjeiras,
E entre as folhas das mangueiras
Vai saudoso adormecer.
Canto alegre nesta gruta,
E me escuta o vale e o monte:
Se na fonte Glaura vejo,
Não desejo mais prazer.
Novos sons o Fauno ouvindo
Destro move o pé felpudo:
Cauteloso, agreste e mudo
Vem saindo por me ver.
Quanto vale uma capela
De jasmins, lírios e rosas,
Que co’as Dríades mimosas
Glaura bela foi colher!
Canto alegre nesta gruta,
E me escuta o vale e o monte.
Se na fonte Glaura vejo,
Não desejo mais prazer.
Receou tristes agoiros
A inocência abandonada;
E aqui veio retirada
Seus tesoiros esconder.
O mortal, que em si não cabe,
Busque a paz de clima em clima;
Que os seus dons no campo estima,
Quem os sabe conhecer.
Canto alegre nesta gruta,
E me escuta o vale e o monte:
Se na fonte Glaura vejo,
Não desejo mais prazer.
Os metais adore o mundo;
Ame as pedras, com que sonha,
Do feliz Jequitinhonha,
Que em seu fundo as viu nascer.
Eu contente nestas brenhas
Amo Glaura e amo a lira,
Onde terno amor suspira,
Que estas penhas faz gemer.
Canto alegre nesta gruta,
E me escuta o vale e o monte:
Se na fonte Glaura vejo,
Não desejo mais prazer.
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Glaura (pseudônimo da musa inspiradora do poeta, característica do arcadismo) Bucolismo – referência ao campo.
A natureza como cenário. Referência ao relacionamento amoroso – há saudosismo – transição ao Romantismo.
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O Beija-Flor – Rondó VII
Deixo, ó Glaura, a triste lida
Submergida em doce calma;
E a minha alma ao bem se entrega,
Que lhe nega o teu rigor.
Neste bosque alegre e rindo
Sou amante afortunado;
E desejo ser mudado
No mais lindo Beija-flor.
Todo o corpo num instante
Se atenua, exala e perde:
É já de oiro, prata e verde
A brilhante e nova cor.
Deixo, ó Glaura, a triste lida
Submergida em doce calma;
E a minha alma ao bem se entrega,
Que lhe nega o teu rigor.
Vejo as penas e a figura,
Provo as asas, dando giros;
Acompanham-me os suspiros,
E a ternura do Pastor.
E num vôo feliz ave
Chego intrépido até onde
Riso e pérolas esconde
O suave e puro Amor.
Deixo, ó Glaura, a triste lida
Submergida em doce calma;
E a minha alma ao bem se entrega,
Que lhe nega o teu rigor.
Toco o néctar precioso,
Que a mortais não se permite;
É o insulto sem limite,
Mas ditoso o meu ardor;
Já me chamas atrevido,
Já me prendes no regaço:
Não me assusta o terno laço,
É fingido o meu temor.
Deixo, ó Glaura, a triste lida
Submergida em doce calma;
E a minha alma ao bem se entrega,
Que lhe nega o teu rigor.
Se disfarças os meus erros,
E me soltas por piedade,
Não estimo a liberdade,
Busco os ferros por favor.
Não me julgues inocente,
Nem abrandes meu castigo;
Que sou bárbaro inimigo,
Insolente e roubador.
Deixo, ó Glaura, a triste lida
Submergida em doce calma;
E a minha alma ao bem se entrega,
Que lhe nega o teu rigor.
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Glaura (pseudônimo da musa inspiradora do poeta, característica do arcadismo) Bucolismo – referência ao campo. A natureza como cenário. Referência ao relacionamento amoroso – há saudosismo – transição ao Romantismo.
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O Rio – Rondó XLIX
Chora o Rio entre arvoredos,
Nos penedos recostado:
Chora o prado, chora o monte,
Chora a fonte, a praia, o mar.
Vêm as Graças lagrimosas,
E os Amores sem ventura
Nesta fria sepultura
Pranto e rosas derramar.
Por ti, Glaura, a Natureza
Se cobriu de mágoa e luto:
Quanto vejo, quanto escuto
É tristeza, e é pesar.
Chora o Rio entre arvoredos,
Nos penedos recostado:
Chora o prado, chora o monte,
Chora a fonte, a praia, o mar.
A escondida, áspera furna
Deixam sátiros agrestes,
E de lúgubres ciprestes
Vem a urna circular.
Vêm saudades, vêm delírios,
Vem a dor, vem o desgosto
Com os cabelos sobre o rosto
Murta e lírios espalhar.
Chora o Rio entre arvoredos,
Nos penedos recostado:
Chora o prado, chora o monte,
Chora a fonte, a praia, o mar.
Nestes ramos flébil aura
Triste voa e presa gira:
Glaura aqui, e ali suspira,
Torna Glaura a suspirar.
Eco, as Dríades magoa,
O saudoso nome ouvindo;
E na gruta repetindo,
Glaura soa e geme o ar.
Chora o Rio entre arvoredos,
Nos penedos recostado:
Chora o prado, chora o monte,
Chora a fonte, a praia, o mar.
Glaura ó Morte enfurecida,
Expirou… que crueldade!
E pudeste sem piedade
Sua vida arrebatar?
Cai a noite, a névoa grossa
Turba os Céus com manto escuro;
E eu aflito em vão procuro
Quem me possa consolar.
Chora o Rio entre arvoredos,
Nos penedos recostado:
Chora o prado, chora o monte,
Chora a fonte, a praia, o mar
37. (Cláudio Manuel da Costa) – Analise os sonetos a seguir, cite as características árcades, se há transição para o Romantismo, cite os clichês árcades e outros temas que você julgar necessário.
Não há transição para o Romantismo. Bucolismo – referência ao campo, rebanho, Pastor “Daliso” (pseudônimo). A natureza como cenário.
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XII
Fatigado da calma se acolhia
Junto o rebanho à sombra dos salgueiros;
E o sol, queimando os ásperos oiteiros,
Com violência maior no campo ardia.
Sufocava se o vento, que gemia
Entre o verde matiz dos sovereiros;
E tanto ao gado, como aos pegureiros
Desmaiava o calor do intenso dia.
Nesta ardente estação, de fino amante
Dando mostras Daliso, atravessava
O campo todo em busca de Violante.
Seu descuido em seu fogo desculpava;
Que mal feria o sol tão penetrante,
Onde maior incêndio a alma abrasava.
XIII
Não há transição para o Romantismo. Bucolismo – referência ao campo. A natureza como cenário. Pseudônimo da Amada “Nise”. Convencionalismo amoroso – o amor é objetivo, é o pastor que procura a amada Nise (usa o pseudônimo) |
Nise ? Nise ? onde estás ? Aonde espera
Achar-te uma alma, que por ti suspira,
Se quanto a vista se dilata, e gira,
Tanto mais de encontrar te desespera!
Ah se ao menos teu nome ouvir pudera
Entre esta aura suave, que respira!
Nise, cuido, que diz; mas é mentira.
Nise, cuidei que ouvia; e tal não era.
Grutas, troncos, penhascos da espessura,
Se o meu bem, se a minha alma em vós se esconde,
Mostrai, mostrai-me a sua formosura.
Nem ao menos o eco me responde!
Ah como é certa a minha desventura!
Nise ? Nise ? onde estás ? aonde ? aonde ?
XIV
Não há transição para o Romantismo. Bucolismo – referência ao campo.
A natureza como cenário. Fugere Urbem – o cortesão é a cidade, nela não há sinceridade, apresenta o cortesão dissimulado. No campo, há o pastor, neste há inocência. |
Quem deixa o trato pastoril amado
Pela ingrata, civil correspondência,
Ou desconhece o rosto da violência,
Ou do retiro a paz não tem provado.
Que bem é ver nos campos transladado
No gênio do pastor, o da inocência!
E que mal é no trato, e na aparência
Ver sempre o cortesão dissimulado!
Ali respira amor sinceridade;
Aqui sempre a traição seu rosto encobre;
Um só trata a mentira, outro a verdade.
Ali não há fortuna, que soçobre;
Aqui quanto se observa, é variedade:
Oh ventura do rico! Oh bem do pobre!
XV
Não há transição para o Romantismo. Bucolismo – referência ao campo.
A natureza como cenário. Pseudônimos – Corino, Alcino, Antandra. |
Formoso, e manso gado, que pascendo
A relva andais por entre o verde prado,
Venturoso rebanho, feliz gado, Que à bela
Antandra estais obedecendo;
Já de Corino os ecos percebendo
A frente levantais, ouvis parado;
Ou já de Alcino ao canto levantado,
Pouco e pouco vos ides recolhendo;
Eu, o mísero Alfeu, que em meu destino
Lamento as sem razões da desventura,
A seguir vos também hoje me inclino:
Medi meu rosto: ouvi minha ternura;
Porque o aspecto, e voz de um peregrino
Sempre faz novidade na espessura.
XVI
Não há transição para o Romantismo. Pseudônimos – Lise, Fido.
Convencionalismo amoroso – o amor é um jogo de sedução, deve ser objetivo e fatal. |
Toda a mortal fadiga adormecia
No silêncio, que a noite convidava;
Nada o sono suavíssimo alterava
Na muda confusão da sombra fria:
Só Fido, que de amor por Lise ardia,
No sossego maior não repousava;
Sentindo o mal, com lágrimas culpava
A sorte; porque dela se partia.
Vê Fido, que o seu bem lhe nega a sorte;
Querer enternecê-na é inútil arte;
Fazer o que ela quer, é rigor forte:
Mas de modo entre as penas se reparte;
Que à Lise rende a alma, a vida à morte:
Por que uma parte alente a outra parte.
XVII
Não há transição para o Romantismo. Bucolismo – referência ao campo – ovelha. A natureza como cenário. Referência à Mitologia |
Deixa, que por um pouco aquele monte
Escute a glória, que a meu peito assiste:
Porque nem sempre lastimoso, e triste
Hei de chorar à margem desta fonte.
Agora, que nem sombra há no horizonte,
Nem o álamo ao zéfiro resiste,
Aquela hora ditosa, em que me viste
Na posse de meu bem, deixa, que conte.
Mas que modo, que acento, que harmonia
Bastante pode ser, gentil pastora,
Para explicar afetos de alegria!
Que hei de dizer, se esta alma, que te adora,
Só costumada às vozes da agonia,
A frase do prazer ainda ignora!
XVIII
Não há transição para o Romantismo. Bucolismo – referência ao campo – ovelha.
A natureza como cenário. Pseudônimo – Nise |
Aquela cinta azul, que o céu estende
A nossa mão esquerda, aquele grito,
Com que está toda a noite o corvo aflito
Dizendo um não sei quê, que não se entende;
Levantar me de um sonho, quando atende
O meu ouvido um mísero conflito,
A tempo, que o voraz lobo maldito
A minha ovelha mais mimosa ofende;
Encontrar a dormir tão preguiçoso
Melampo, o meu fiel, que na manada
Sempre desperto está, sempre ansioso;
Ah! queira Deus, que minta a sorte irada:
Mas de tão triste agouro cuidadoso
Só me lembro de Nise, e de mais nada.
XIX
Não há transição para o Romantismo. Bucolismo – referência ao campo. A natureza como cenário. Pseudônimos – Corino |
Corino, vai buscar aquela ovelha,
Que grita lá no campo, e dormiu fora;
Anda; acorda, pastor; que sai a Aurora:
Como vem tão risonha, e tão vermelha!
Já perdi noutro tempo uma parelha
Por teu respeito; queira Deus, que agora
Não se me vá também estoutra embora;
Pois não queres ouvir, quem te aconselha.
Que sono será este tão pesado!
Nada responde, nada diz Corino:
Ora em que mãos está meu pobre gado!
Mas ai de mim! que cego desatino.
Como te hei de acusar de descuidado,
Se toda a culpa tua é meu destino!
XX
Não há transição para o Romantismo.
Bucolismo – referência ao campo.
A natureza como cenário.
|
Ai de mim! como estou tão descuidado!
Como do meu rebanho assim me esqueço,
Que vendo o trasmalhar no mato espesso,
Em lugar de o tornar, fico pasmado!
Ouço o rumor que faz desaforado
O lobo nos redis; ouço o sucesso
Da ovelha, do pastor; e desconheço
Não menos, do que ao dono, o mesmo gado:
Da fonte dos meus olhos nunca enxuta
A corrente fatal, fico indeciso,
Ao ver, quanto em meu dano se executa.
Um pouco apenas meu pesar suavizo,
Quando nas serras o meu mal se escuta;
Que triste alívio! ah infeliz Daliso!
XXI
Não há transição para o Romantismo.
Bucolismo – referência ao campo.
A natureza como cenário. Pseudônimo: Fido
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De um ramo desta faia pendurado
Veja o instrumento estar do pastor Fido;
Daquele, que entre os mais era aplaudido,
Se alguma vez nas selvas escutado.
Ser eternamente consagrado
Um ai saudoso, um fúnebre gemido;
Enquanto for no monte repetido
O seu nome, o seu canto levantado.
Se chegas a este sítio, e te persuade
A algum pesar a sua desventura,
Corresponde em afetos de piedade;
Lembra te, caminhante, da ternura
De seu canto suave; e uma saudade
Por obséquio dedica à sepultura.
XXII
Não há transição para o Romantismo. Bucolismo – referência ao campo.
A natureza como cenário. Pseudônimo: Fido Referência à mitologia |
Neste álamo sombrio, aonde a escura
Noite produz a imagem do segredo;
Em que apenas distingue o próprio medo
Do feio assombro a hórrida figura;
Aqui, onde não geme, nem murmura
Zéfiro brando em fúnebre arvoredo,
Sentado sabre o tosco de um penedo
Chorava Fido a sua desventura.
As lágrimas a penha enternecida
Um rio fecundou, donde manava
D’ânsia mortal a cópia derretida:
A natureza em ambos se mudava;
Abalava-se a penha comovida;
Fido, estátua da dor, se congelava.
XXIII
Não há transição para o Romantismo. Pseudônimo: Almena, Filomena Objetivismo Convencionalismo amoroso: o amor é um jogo de sedução |
Tu sonora corrente, fonte pura,
Testemunha fiel da minha pena,
Sabe, que a sempre dura, e ingrata
Almena Contra o meu rendimento se conjura:
Aqui me manda estar nesta espessura,
Ouvindo a triste voz da Filomena,
E bem que este martírio hoje me ordena,
Jamais espero ter melhor ventura.
Veio a dar me somente uma esperança
Nova ideia do ódio; pois sabia,
Que o rigor não me assusta, nem me cansa:
Vendo a tanto crescer minha porfia,
Quis mudar de tormento; e por vingança
Foi buscar no favor a tirania.
XXIV
Não há transição para o Romantismo. Aurea mediocrita: busca simplicidade, o equilíbrio de ouro – “aquele, que no horror de uma pobreza, anda sempre infeliz, sempre vexado”.
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Sonha em torrentes d’água, o que abrasado
Na sede ardente está; sonha em riqueza
Aquele, que no horror de uma pobreza
Anda sempre infeliz, sempre vexado:
Assim na agitação de meu cuidado
De um contínuo delírio esta alma presa,
Quando é tudo rigor, tudo aspereza,
Me finjo no prazer de um doce estado.
Ao despertar a louca fantasia
Do enfermo, do mendigo, se descobre
Do torpe engano seu a imagem fria:
Que importa, pois que a ideia alívios cobre,
Se apesar desta ingrata aleivosia,
Quanto mais rico estou, estou mais pobre.
XXV
Não há transição para o Romantismo. Psedônimo: Lise. Convencionalismo amoroso: o amor é um jogo de sedução.
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Não de tigres as testas descarnadas,
Não de hircanos leões a pele dura,
Por sacrifício à tua formosura,
Aqui te deixo, ó Lise, penduradas:
Ânsias ardentes, lágrimas cansadas,
Com que meu rosto enfim se desfigura,
São, bela ninfa, a vítima mais pura,
Que as tuas aras guardarão sagradas.
Outro as flores, e frutos, que te envia,
Corte nos montes, corte nas florestas;
Que eu rendo as mágoas, que por ti sentia:
Mas entre flores, frutos, peles, testas,
Para adornar o altar da tirania,
Que outra vítima queres mais, do que estas ?
XXVI
Não há transição para o Romantismo.Psedônimo: Nise
Convencionalismo amoroso: o amor é um jogo de sedução. |
Não vês, Nise, este vento desabrido,
Que arranca os duros troncos?
Não vês esta, Que vem cobrindo o céu, sombra funesta,
Entre o horror de um relâmpago incendido?
Não vês a cada instante o ar partido
Dessas linhas de fogo? Tudo cresta,
Tudo consome, tudo arrasa, e infesta,
O raio a cada instante despedido.
Ah! não temas o estrago, que ameaça
A tormenta fatal; que o Céu destina
Vejas mais feia, mais cruel desgraça:
Rasga o meu peito, já que és tão ferina;
Verás a tempestade, que em mim passa;
Conhecerás então, o que é ruína.
XXVII
Não há transição para o Romantismo. Bucolismo: referência ao campo (sítio)
Locus amoenus – o sítio |
Apressa se a tocar o caminhante
O pouso, que lhe marca a luz do dia;
E da sua esperança se confia,
Que chegue a entrar no porto o navegante;
Nem aquele sem termo passa avante
Na longa, duvidosa e incerta via;
Nem este atravessando a região fria
Vai levando sem rumo o curso errante:
Depois que um breve tempo houver passado,
Um se verá sobre a segura areia,
Chegará o outro ao sítio desejado:
Eu só, tendo de penas a alma cheia,
Não tenho, que esperar; que o meu cuidado
Faz, que gire sem norte a minha ideia.
XXVIII
Não há transição para o Romantismo. Psedônimo: Anarda Convencionalismo amoroso: o amor é um jogo de sedução.
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Faz a imaginação de um bem amado,
Que nele se transforme o peito amante;
Daqui vem, que a minha alma delirante
Se não distingue já do meu cuidado.
Nesta doce loucura arrebatado
Anarda cuido ver, bem que distante;
Mas ao passo, que a busco neste instante
Me vejo no meu mal desenganado.
Pois se Anarda em mim vive, e eu nela vivo,
E por força da ideia me converto
Na bela causa de meu fogo ativo;
Como nas tristes lágrimas, que verto,
Ao querer contrastar seu gênio esquivo,
Tão longe dela estou, e estou tão perto.
XXIX
Não há transição para o Romantismo. Psedônimo: NiseConvencionalismo amoroso: o amor é um jogo de sedução.
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Ai Nise amada! se este meu tormento,
Se estes meus sentidíssimos gemidos
Lá no teu peito, lá nos teus ouvidos
Achar pudessem brando acolhimento;
Como alegre em servir-te, como atento
Meus votos tributara agradecidos!
Por séculos de males bem sofridos
Trocara todo o meu contentamento.
Mas se na incontrastável, pedra dura
De teu rigor não há correspondência,
Para os doces afetos de ternura;
Cesse de meus suspiros a veemência;
Que é fazer mais soberba a formosura
Adorar o rigor da resistência.
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